que a moda tem ciclos, todo mundo já sabe. Mas com as redes sociais, esses ciclos estão ficando cada vez mais curtos—e mais homogêneos. Basta pensar em como é difícil definir uma tendência ou um visual marcante para os anos 2020. Tudo muda tão rápido que, ao invés de grandes movimentos de estilo, vivemos uma sucessão de cores e aesthetics que entram e saem do hype num piscar de olhos.
todo mundo acaba absorvendo as mesmas referências e, sem perceber, começa a se vestir da mesma forma. E não só se vestir, né? Nossos celulares são os mesmos, as fotos têm os mesmos filtros, nossos rostos, maquiagens e penteados seguem a mesma cartilha. A individualidade vai se dissolvendo no feed, e a gente nem percebe.
tudo bem que não é de hoje que isso acontece. O sociólogo Georg Simmel já dizia, lá no século XIX, que a moda funciona por um movimento de imitação-diferenciação: primeiro, um grupo adota algo novo, depois ele se espalha, e assim que se torna comum demais, outra novidade surge para substituir. O fator diferente que entrou nessa equação é a velocidade e a escala desse processo.

há 20 anos, as referências de moda vinham de revistas, televisão e filmes—meios relativamente filtrados e limitados. Hoje, vivemos em um ambiente digital onde os algoritmos moldam o que vemos e desejamos. E esses algoritmos não são neutros. Eles são projetados com objetivos comerciais, premiando conteúdos que já têm um apelo previsível para o público. Criadores e marcas que seguem essa fórmula ganham mais visibilidade, enquanto qualquer coisa diferente fica soterrada no feed.
ou seja, para ver algo realmente novo—fora da bolha que nos cerca—é preciso buscar ativamente. Talvez o segredo esteja em driblar o algoritmo, bagunçar o jogo e confundi-lo o suficiente para que ele nos apresente referências inesperadas.
a jornalista de moda Alexandra Hildreth comentou à Vogue Business que dá para notar o tempo de tela de uma pessoa só pelo jeito que ela se veste—e essa frase alugou um triplex na minha cabeça:
“Se você andar pela Times Square, consegue identificar quais TikTokers as pessoas seguem. Dá para saber se compram na liquidação da Ssense ou da Farfetch.”
de fato, o excesso de tendências e repetições afeta nosso senso de individualidade. Quando tudo que consumimos já vem pré-selecionado por um algoritmo, eu fico pensando se a gente não acaba perdendo a curiosidade (ou a habilidade) de explorar por conta própria. Sem perceber, tomamos decisões baseadas mais no olhar do outro do que no nosso próprio gosto.
se reparar bem, as pessoas que costumamos considerar “estilosas” são justamente aquelas que não se vestem como todo mundo. Muitas vezes, suas referências vêm de fora da moda: arte, arquitetura, natureza, design de interiores, cenas cotidianas… Tudo isso pode ajudar a expandir nosso repertório visual e trazer novos insights sobre como nos vestir.
estilo não é sobre acumular roupas aleatórias, mas sobre fazer escolhas intencionais✨ Num mundo onde já somos tão guiados por algoritmos, fica o convite (e eu me incluo nessa) pra gente desafiar esse ciclo e tomar as rédeas do próprio gosto. No fim das contas, quem decide o que faz sentido no nosso guarda-roupa somos nós ;)
me contem aqui de onde vem as referências de vocês!
até a próxima ❤️
Creio que essa característica (?) é algo relacionado a nossa geração, e ainda mais atrelado ao elitismo. O acesso à internet está cada vez mais democratizado, muitas pessoas podem ter as mesmas referências nas redes socias, porém uma enorme parcela não vê ou entende que para caber em um lugar precisa estar com uma roupa ou estilo X. Nas ruas as pessoas ainda tem uma forte personalidade, e vejo isso mais em contextos periféricos do que em ambientes frequentados pela elite.
Texto incrível. Um dia vi um vídeo falando sobre como até o cheiro das pessoas estão iguais. Fico pensando se isso é uma coisa da geração Z, ou se é algo geral… mas de qualquer maneira, eu amei seu texto! Muito fluido, claro, e interessante.